“Mulheres que difamaram e caluniaram alunos devem ser recebidas e atendidas pela universidade.”


Fonte:   https://7uvw.xyz/ladodireitodaequidade/feministas/lideres/raquel-tamassia/mulheres-difamaram-caluniaram-alunos-devem-recebidas-atendidas-universidade/  

– Raquel Tamassia, ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Campinas), 2016.

A exposição de um Mural dos Machistas com fotos de 25 universitários identificadas por nomes ou apelidos em uma das paredes da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Limeira, repercutiu na internet e fez alunos e ex-alunos da universidade discutirem sobre a legitimidade do ato feito pela Frente Feminista da Unicamp.

Segundo a direção da FCA, o painel amanheceu fixado na parede da unidade na sexta-feira, porém foi removido no mesmo dia após conversa com a Frente. No entanto, uma fotografia do mural publicada no Facebook na noite de sábado por um advogado de Porto Alegre foi compartilhada na segunda-feira em um grupo aberto destinado a assuntos relacionados à universidade e que reúne 35,7 mil pessoas, ultrapassando 100 comentários e 100 reações, muitas de amor e ódio.

Uma integrante do grupo explicou na internet que a proposta da Frente Feminista era “expor os casos de machismo que aconteceram e foram denunciados pelas vítimas, como agressão verbal, física, estupro, etc, para alertar a galera, já que a denúncia e BO na delegacia da mulher cidade não têm efeito algum”, no entanto a reportagem não conseguiu contato com ela ou com alguma representante da Frente.

Conforme uma estudante do campus em Campinas, que teve o nome preservado, situação semelhante aconteceu há cerca de cinco meses no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), porém sem tanta visibilidade. “Vários caras tiveram o rosto e os nomes colados na parede escrito ‘cuidado com esse homem’”, conta. “Por que polícia? Porque não resolve! Só no meu instituto sei de três caras que já estupraram mulheres mais de uma vez e nada acontece”.

A legitimidade do ato foi questionada entre os homens. “Não sou contra expor abusadores e estupradores.. mas nem todo mundo que está nesse quadro é estuprador nem abusador. Fiquei sabendo que tem gente nesse quadro que foi colocado simplesmente porque saiu com outra menina enquanto namorava outra. como o quadro não especifica o que cada um fez, essas pessoas estão sendo perseguidas por serem vistas agora como estupradores”, observou um deles. Outro lembrou que o ato é negativo em uma era “de incitação à violência por motivos subjetivos e pouco justificáveis”. “Não é uma questão de proteger homem, mas sim resguardar a pessoa de julgamento por um tribunal de massas na qual paixões falam mais alto que evidências.”

Para a advogada Raquel Tamassia, que integrou a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Campinas por nove anos, sendo três como presidente, e membro da mesma comissão no âmbito estadual desde o início do ano, o mural “representa o esgotamento das mulheres em procurar ajuda e não encontrar” com risco de serem punidas por crimes como difamação e calúnia. “Agora resta tentar entender porque as mulheres fizeram isso, porque chegaram a esse nível de agressividade. A faculdade tem que chamar essas mulheres e verificar quais as demandas delas dentro do campus.”
DDM diz que qualquer denúncia é investigada

A equipe da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Limeira afirmou que qualquer denúncia de violência contra a mulher é apurado, seja ameaça, lesão corporal ou estupro, porém a maioria das vítimas não faz boletim de ocorrência e não entra com representação para que seja instaurado inquérito policial.

Questionada sobre o número de registros feitos vinculados ao campus, alegou que os casos de estupro acontecem em festas e muitas vezes a vítima não especifica que ela e o autor são alunos, e as lesões corporais são encaminhadas para o Fórum, sendo difícil saber o desdobramento. Também detalhou que “mesmo com os parcos recursos humanos que possui” registra cerca de 350 boletins de ocorrência com instauração de ao menos 100 inquéritos por mês, sendo que estagiários são atendentes. “Tudo passa pelos policiais. O atendimento é feito com muita educação”, garantiu.

Já a direção da FCA informou que nenhuma denúncia foi recebida, mas aguarda formalização para instalação de processo interno para verificar e tomar providências cabíveis. Por sua vez, a reitoria da Unicamp lembrou que possui o Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) e Ouvidoria, sendo que o primeiro presta diversas orientações, inclusive jurídicas, e o segundo media as questões que envolvem a Administração da Universidade, servidores, alunos e a comunidade externa.

—  Jaqueline Harumi, “Mural de ‘machistas’ na Unicamp gera polêmica”, Correio Popular, 26.09.2016. http://correio.rac.com.br/_conteudo/2016/09/campinas_e_rmc/450761-mural-de-machistas-na-unicamp-gera-polemica.html

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