mais risco correm homens que mulheres de morrer baleado


Fonte:   https://7uvw.xyz/ladodireitodaequidade/pesquisas/mundo-pesquisas/mais-risco-correm-homens-que-mulheres-de-morrer-baleado/  

– ONU, 2015.

O Brasil registrou em 2012 o mais alto número de vítimas de armas de fogo desde o início da série histórica do Mapa da Violência, de 1980, segundo o mais recente levantamento divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Foram 42.416 mortes naquele ano, a maioria entre jovens e negros.

Entre 1980 e 2012, morreu no Brasil um total de 880.386 vítimas de disparos de armas de fogo. O total de mortes saltou de 8.710, em 1980, para 42.416 no fim desse período – alta de 387%, enquanto a taxa de crescimento populacional foi de aproximadamente 61%. Desse total, 497.570 eram jovens na faixa de 15 e 29 anos de idade, o que representa 56% das vítimas, embora os jovens representem cerca de 27% da população do país nesse período.

Entre os jovens de 15 a 29 anos, essa alta foi ainda maior: passou de 4.415 vítimas em 1980 para 24.882 em 2012, um salto de 463,6%. Só em 2012 foram 75.553 óbitos de jovens por diversos motivos, dos quais 24.882 decorrentes de armas de fogo, principal causa de mortalidade da juventude brasileira, atrás de causas como acidentes de transporte e HIV.

Segundo o levantamento, o Brasil ocupa a 11ª posição em um ranking feito com 90 países, a partir de dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), com maiores índices de óbitos por arma de fogo, com uma taxa de 21,9 mortes a cada 100 mil habitantes. O Brasil ficou atrás de países como El Salvador, Venezuela, Guatemala e Colômbia. O estudo toma como referências Polônia e Reino Unido, por exemplo, cujas taxas são de respectivamente 0,3 e 0,2.

No total, armas de fogo foram responsáveis por 42.416 mortes em 2012, o que representa 116 mortes a cada dia daquele ano, sendo 2,5 vezes mais negros que brancos. A proporção de homens é de 94% para a população total e 95% para a jovem. De acordo com o estudo, 94,5% do total de mortes resultaram de homicídios. As demais causas apontadas são acidente (284), suicídio (989) ou indeterminada (1.066).

“O Brasil, sem conflitos religiosos ou étnicos, de cor ou de raça, sem disputas territoriais ou de fronteiras, sem guerra civil ou enfrentamentos políticos levados ao plano das armas, consegue vitimar mais cidadãos via armas de fogo do que muitos dos conflitos contemporâneos, como a guerra da Chechênia, a do Golfo, as várias Intifadas, as guerrilhas colombianas ou a guerra de liberação de Angola e Moçambique, ou ainda uma longa série de conflitos armados acontecidos já no presente século e que tivemos oportunidade de expor em mapas anteriores”, destaca o estudo.

O documento, elaborado desde 1998 pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), é fundamentado em dados do Subsistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, que registra as declarações de óbito expedidas em todo o país.

A pesquisa completa, intitulada “Mapa da Violência 2015 – Mortes Matadas por Armas de Fogo”, foi lançada em meio ao debate em curso na Câmara dos Deputados sobre a proposta que prevê a revogação do Estatuto do Desarmamento (PL 3722/12) e a facilitação do porte de armas. A chamada “bancada da bala” defende o “princípio da autodefesa e de as pessoas se armarem”, iniciativa que é duramente criticada por movimentos sociais.

O estudo indica que as políticas de desarmamento conseguiram estagnar o crescimento da mortalidade por armas de fogo no país, com redução expressiva nos dois primeiros anos de vigência do estatuto. Atualmente, o estatuto autoriza o cidadão maior de 25 anos a ter, de modo justificado, até seis armas de fogo, desde que comprove capacidade de usá-las.

De acordo com o estudo que foi divulgado na terça, 70,7% do total de mortes evitadas pela incidência das políticas do desarmamento foram de jovens. Para avaliar o impacto do desarmamento foi adotado um modelo de análise conhecido como Experimento de Séries Temporais, utilizando como elemento de previsão a tendência semestral de óbitos por armas de fogo ocorridos entre os anos de 1999 e 2003 – quando o estatuto entrou em vigor.

O governo Dilma Rousseff se posiciona contra a revogação do Estatuto do Desarmamento, sob o argumento de que seria um retrocesso a liberação para que a população em geral ande armada nas ruas. O Executivo defende um reforço nas campanhas pela vida e segurança pública.

O estudo considera que é “perversa a seletividade racial” dos homicídios e sua tendência de crescimento. As taxas de homicídios por armas de fogo entre a população branca caem 23%, de 14,5 a cada 100 mil habitantes em 2003 para 11,8 em 2012. Já a taxa de homicídios de negros aumentou 14,1%, de 24,9 a cada 100 mil habitantes para 28,5. Com esse diferencial, concluiu o estudo, a vitimização negra do país, que em 2003 era de 72,5%, em poucos anos dobrou.

– Bruno Peres, “Mortes por armas de fogo aumentam 387% em três décadas, diz Unesco”, Valor, 13.05.2015. http://www.valor.com.br/brasil/4048928/mortes-por-armas-de-fogo-aumentam-387-em-tres-decadas-diz-unesco

Comentários