pior desempenho têm meninos em escolas mistas que separadas


Fonte:   https://7uvw.xyz/ladodireitodaequidade/pesquisas/eua-pesquisas/pior-desempenho-tem-meninos-em-escolas-mistas-que-separadas/  

– Universidade de Stetson, Flórida, EUA, 2017.

Na hora do recreio, 15 minutos são suficientes para que os meninos liberem toda a energia que seus corpos precisam gastar. Entre as meninas, no entanto, este é o tempo que se leva para se debater a brincadeira ideal, e por isso o intervalo é de meia hora. Esta é a rotina no Colégio Porto Real, na Barra, para as duas turmas do 1º ano do ensino fundamental. Meninos e meninas estudam e se divertem separadamente, de acordo com os preceitos do método conhecido como single sex. No Porto Real, a prática é adotada como parte da Educação Personalizada, desenvolvida pelo espanhol Victor García Hoz nos anos 1960. Segundo esse modelo pedagógico, cada criança tem um ritmo de desenvolvimento que deve ser levado em consideração no ambiente acadêmico.

Segundo Adrianna Abreu, diretora do ensino fundamental feminino e uma das fundadoras da escola, durante a educação infantil, há pouca distinção entre os sexos em termos de aprendizado. Mas em torno dos 6 anos, o cérebro de meninas e meninos começa a se distinguir do ponto de vista biológico, o que os leva a aprender de formas diferentes. De acordo com o modelo de Hoz, estudando em turmas separadas, cada grupo alcança seu potencial máximo e tem melhor aproveitamento, pois a divisão evita a frustração que uma criança pode sentir caso se julgue inapta para aprender determinada matéria simplesmente por não estar preparada para isso ou não ter recebido o ensinamento de forma adequada para ela.

A filosofia abarca a escolha dos mestres. As aulas para a turma masculina são dadas por um homem, enquanto uma professora é responsável pela turma de garotas. Em ambas as salas, trabalha-se o mesmo material, porém com temas que se acredita serem mais agradáveis a cada universo.

— Meninas, em termos afetivos, amadurecem muito antes dos meninos, o que inclui as áreas do cérebro responsáveis pela leitura e pela escrita. Já o cérebro masculino nesta fase está pronto para a questão da ciência, mas não da escrita — sustenta Adrianna.

Ricardo Almeida, de 33 anos, professor do fundamental, começou a dar aulas no Porto Real em fevereiro do ano passado, quando o colégio só oferecia educação infantil. Teve a primeira experiência com uma turma exclusivamente masculina a partir deste ano, quando o novo segmento foi implantado na escola. Almeida afirma que a conexão estabelecida entre ele e a turma traz um entendimento maior dos pontos fracos ou fortes dos alunos.

— No futebol, os meninos vão se machucar, se resolver entre eles, e isso acontece um pouco também em sala de aula. Eles não sentem falta das meninas, até porque o colégio é só uma parte da vida deles. E, por estarem apenas entre meninos, muitos têm desempenho melhor do que teriam em turmas mistas; não sentem vergonha de declamar uma poesia, por exemplo. E, quando o menino não está com a menina todo dia no ambiente competitivo, acaba tratando-a muito mais cordialmente depois — defende.

De acordo com a Educação Personalizada, é nos ambientes fora da escola que o convívio social deve ser mais bem explorado. No Porto Real, meninos e meninas só brincam juntos em festas e eventos promovidos pela escola. É nestas ocasiões, e nas reuniões de pais, que muitas amizades se formam entre as famílias, conta Gabriela Nogueira, mãe da Antonella, de 7 anos:

— Quando eles se encontram com mais frequência fora da escola, graças a essa proximidade entre as famílias, têm um convívio em que um não precisa que provar nada para o outro. Sempre marcamos programas.

Ao longo de cada mês, o colégio cria atividades em torno de uma temática para desenvolver virtudes específicas. Muito bagunceiro, Caio tinha dificuldade para levar as coisas a sério. Na tentativa de fazê-lo adquirir responsabilidade, César Santiago, seu pai, conta que ele e a mulher decidiram mudar o pequeno de escola este ano e dar uma chance ao modelo de ensino personalizado. No mês em que o fortalecimento emocional foi escolhido como a habilidade a ser trabalhada com as crianças, ele afirma que já percebe resultados.

— O Caio foi amadurecendo muito rápido, mas sem perder sua docilidade de criança. E continua imaginativo. Hoje, ele é muito mais seguro, não chora mais à toa, tem mais resistência em relação às outras crianças — diz Santiago.

Caio conta que, quando entrou na escola, teve dificuldades para fazer amigos. Mas, com o apoio do professor e dos coordenadores, conseguiu se enturmar:

— No começo os meninos brigavam comigo, mas consegui ficar amigo deles. Gostei de trocar de escola, porque meu professor me ajuda bastante. Uma vez, prometeu que se eu parasse de chorar ia ganhar um sorvete. Fiquei vários dias sem chorar e ganhei.

Adrianna e os outros fundadores da escola começaram a pesquisar sobre pedagogia quando seus filhos nasceram, há cerca de 15 anos. Tinham interesse em encontrar uma escola cujos princípios envolvessem a orientação familiar no processo educativo. Isso os levou até a Espanha, onde conheceram a Fomento de Centros de Enseñanza, instituição criada em 1963 por um grupo de pais interessados em manter vivo o legado de Victor Garcia Hoz, catedrático da Universidade de Madrique que acabara de se aposentar.

Atualmente, diz Adrianna, o método single sex está em alta nos Estados Unidos, onde, nas últimas décadas, as escolas do tipo saltaram de algumas unidades para as centenas, sobretudo na rede pública. Um estudo realizado ao longo de três anos pela Stetson University, na Flórida, indicou que, enquanto meninas que estudam em classes mistas obtiveram 59% de proficiência acadêmica, as matriculadas em turmas single sex alcançaram 75%. No caso dos meninos, a diferença é de 37% para 86%. Além disso, países como a Austrália realizam congressos regularmente para discutir a proposta. Adrianna reconhece, porém, que ela é polêmica:

— Para quem não conhece, a ideia soa muito estranha: “Ah, isso é uma coisa retrógrada”. Pelo contrário: quem está no meio da educação, quem conhece o modelo, vê que esse é um movimento de vanguarda. Numa escola mista, a tendência é que o outro sexo vire algo a ser consumido, em vez de ser alguém, uma pessoa por quem se pode ter amizade e respeito. Nossa proposta é fazer com que o menino passe a se relacionar com a menina como alguém que tem nome.

 

– Árion Lucas, “Escola na Barra da Tijuca separa meninos e meninas”, O Globo, 26.07.2017. https://oglobo.globo.com/rio/bairros/escola-na-barra-da-tijuca-separa-meninos-meninas-21631442

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