“O mundo do macho acabou.”


Fonte:   https://7uvw.xyz/ladodireitodaequidade/rosa-da-fonseca/mundo-macho-acabou/  

– Rosa da Fonseca, Vereadora de Fortaleza (PSB, 1992-1996), 2007.

Um final de tarde com clima frio, úmido e escuro. Uma idéia que a cidade pode estranhar. Foge pensamento. Uma praça faz jus ao nome de um Alencar prodigioso e ver seus mendigos, prostitutas e bêbados vendendo os serviços e pedindo dinheiro. É hora do corre-corre para chegar à casa e pensar nos frutos do dia de trabalho. Mas, uma mulher é renitente com o modelo dessa sociedade. O tempo fechou e com as idéias fluentes, a socióloga Mestra em educação, ex-vereadora e professora Rosa Maria Ferreira da Fonseca, ou simplesmente, Rosa da Fonseca, verbaliza a mim um novo feminismo, tendo como ponto de partida a mudança no sistema atual. Homens e mulheres estariam juntos por essa mudança, já que, todos fazem parte do mesmo barco que dá provas de afundamento.

Em um banco da praça José de Alencar e com um fundo musical religioso, ela concluiu: “O mundo do macho acabou”. Lançando um novo manifesto, a União das Mulheres Cearenses (UMC) vem à público a fim de divulgar uma proposta para homens e mulheres lutarem juntos contra valores e modelos da sociedade contemporânea. Próximo ao dia internacional das mulheres, 8, a UMC antecipa uma manifestação para o dia 7, como forma de repudiar o caráter comercial da data. O encontro acontece às 15h, na Praça do Ferreira.

“O homem criou o capitalismo a sua imagem-semelhança”. Para Rosa da Fonseca, o grande problema do Sistema foi a “dissociação” entre a vida privada a vida pública. O homem produzia e buscava o lucro, enquanto a mulher era responsável pelas atividades, forçosamente subalternas, de amar, cuidar das crianças e da casa, isto é, o homem trabalhava e a mulher sustentava o patriarcado, fala. O crivo econômico atribuído às questões de gênero é inspirado em “O valor é o homem”, da alemã Roswitha Scholz. Após vinte anos de pesquisa feminista, a autora rejeita a tentativa que fazem alguns grupos feministas de colocar a lutar para se igualar ao status masculino como a resolução da problemática dos sexos.

Complexo ou não, Rosa diz que “não tem como voltar atrás”. A mulher e o movimento feminista batalharam para se igualar ao homem, mas isso não funcionou: “nós estamos sendo chamados a ser homem na vida pública e a continuar mulher na vida privada”, explica. Ela lembra que o movimento feminista apostou na independência da mulher através do trabalho, mas a conclusão foi que, juntamente com os homens, a mulher fica subjugada à lógica do capital. Segundo Rosa, o homem não vai criar novos empregos para onde escoariam a mão-de-obra que as máquinas estão substituindo. Ela ainda ironiza: “A única saída para o capitalismo seria se encontrasse um planeta cheio de ETs com dinheiro para comprar mercadorias”.

Solução. Se nós somos inteligentes e criativos, por que a gente não pensa o nosso modelo de sociedade? Esse é o questionamento da ex-vereadora, que, em nome do manifesto “O mundo do macho acabou”, propõe “usar a tecnologia para produzir bens para atender as necessidades humanas, eliminando o dinheiro como mediador. Não ter o dinheiro. Não ter a troca, mas sim, um critério acordado coletivamente.” Rosa chama esse sistema de “sociedade da emancipação humana.” Ela insiste que não é a emancipação das mulheres, e sim, a emancipação da humanidade.

“Que a família comece e termine sabendo onde vai,/ E que o homem carregue nos ombros a graça de um pai./ Que a mulher seja um céu de ternura, aconchego e calor… Ao som de Pe. Zezinho, com a Oração da família, Rosa sugere um movimento transnacional, horizontal (sem direção e base), em rede, combatente da essência do capitalismo, que é o patriarcado do valor. Não é sindicato, não é partido, não é movimento ecológico nem feminista, é uma tentativa de superar um modelo que sufoca, explica a professora. Ela confessa que não existe uma fórmula acaba, mas o manifesto quer uma “sociedade socialmente igual, humanamente diversa, criativa no ócio produtivo e ecologicamente exuberante”.

Novo feminismo. Queremos “superar a União das Mulheres Cearense”. Rosa argumenta que há uma confusão generalizada no que diz respeito a questão de gênero. É necessário desenvolver atividades que possibilitem uma harmonia entre homens e mulheres. Não se podem comparar diferenças psicológicas com diferenças culturais. O homem lava os pratos do jantar, bem como a mulher pode trocar o pneu do carro, mas isso a sociedade ainda tem como um tabu. Ela não quis citar nome de uma mulher como exemplo a ser seguido, justificando que seria injustiça com as demais que também foram importantes, mas não escondeu a admiração pela pensadora alemã Roswitha Scholz e citou a “razão sensível” como uma característica indispensável à nova mulher.

Ao comentar a lei Maria da Penha, ela disse que foi o resultado de uma luta, mas não resolve o problema: “a violência está é aumentando. Lutar dentro do sistema não vai mudar nada”, declara. A lei 11.340, Maria da Penha, que protege a mulher contra violência doméstica, entrou em vigor em setembro de 2006 e homenageia uma farmacêutica que lutou 20 anos para ver seu agressor na cadeia. Como proposta, o manifesto, o “O mundo do macho acabou” propõe um novo movimento feminista com a participação do homem. Esse modelo não é novo e foi proposto no 8º. Congresso da Mulher Cearense, em 1997.

Talvez pouco compreensível para quem se acostumou com o modelo social sem que não questionar porque vivemos assim. Para uns, pode parecer idealismo e um tanto utópico. O certo é que Rosa é porta voz de um possível novo feminismo. Então, se preparem os homens, pois estão na mira do novo movimento feminista proposto.

– Andreh Jonathas, “‘O mundo do macho acabou’ – Novo feminismo cearense”, OVERMUNDO, 8.03.2007. http://www.overmundo.com.br/overblog/o-mundo-do-macho-acabou-novo-feminismo-cearense

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