“Claro que nós mulheres não queremos pílula masculina! Acabaria com aqueles pequenos ‘acidentes’.”


Fonte:   https://7uvw.xyz/ladodireitodaequidade/leah-hardy/claro-mulheres-queremos-pilula-masculina-acabaria-pequenos-acidentes/  

– Leah Hardy, jornalista inglesa, 2010.

Agora mesmo, 60 homens em Manchester e 20 em Edimburgo estão temporariamente estéreis.

Eles concordaram fazer parte do teste de um “promissor” contraceptivo injetável masculino.

Cada homem teve aplicada duas injeções de hormônio, que impedirão a produção de sêmen, por cerca de dois meses.

Não ouvimos os indivíduos envolvidos, mas os cientistas estão bastante animados com o teste.

E, apesar da vacina ser destinada aos homens, de acordo com seus criadores, as reais beneficiadas serão as mulheres.

Aparentemente, temos implorado durante anos por hormônios contraceptivos masculinos.

Ou, como diz o professor Richard Anderson, da Universidade de Edimburgo: “Quando realizamos pesquisas com mulheres, elas se mostraram bastante entusiasmadas.”

“A razão principal era a de que elas queriam dividir a responsabilidade pela contracepção.”

O que, parece, é perfeitamente razoável.

Afinal, por que todas as mulheres não iriam desejar dividir os efeitos colaterais de consumir hormônios e a responsabilidade de prevenir uma gravidez indesejada?

E, enquanto os homens podem ter certos receios sobre serem bombardeados por hormônios (bem-vindos ao nosso mundo), ficando estéreis e aguentando efeitos colaterais que podem incluir manchas de pele e mau humor, certamente haverá enorme demanda para a injeção por parte de mulheres fartas de serem as únicas responsáveis pela contracepção e que correrão para inscrever os seus cônjuges relutantes, correto?

Bem, pessoalmente, eu não tenho tanta certeza.

Sim, em teoria, tudo é legal. Igualdade, sensibilidade e, oh, muito moderno.
Mas somos mulheres realmente loucas para entregar o controle de nossa fertilidade para homens, mesmo os homens que amamos e com quem vivemos?

Porém, há o “você deveria confiar nele para assumir” a produção?.

Funciona assim: são as mulheres que sofrem os tormentos da gravidez e o peso da criação dos filhos, por isso tem mais a perder se o cônjuge é descuidado em tomar sua pílula ou voltar ao médico para uma nova injeção de hormônio.

E, diz a teoria, os homens são mais esquecidos das coisas e famosos por sua relutância em se consultarem com um médico; e não confiaríamos neles para usar o contraceptivo adequadamente, o que faz o homem ser pouco confiável para usar uma contracepção adequada, e que os torna menos adequados.

Tudo muito correto e, até certo ponto, é verdade.

Algumas mulheres estão desesperadas em não ter mais bebês e são casadas com homens imprestáveis – e esses dois fatos podem muito bem ser conectados.

Mas há outro problema com a contracepção masculina que é menos citado. E é sobre se a maioria das mulheres estaria realmente feliz em entregar o poder que possuem, sobre uma parte de suas vidas que tende a significar mais para nós do que para os homens.

A maioria das mulheres que conheço ficaria horrorizada se companheiros escolhessem novas cortinas sem consultá-las, e ficariam chocadas até as células se o marido chegasse em casa com um sofá novo, ou mesmo com um novo corte radical de cabelo.

Assim como nos sentiríamos se nossos homens fizessem uma consulta, privada, e usassem uma injeção sem nos consultar.

Para ser honesta, não tenho certeza se a maioria das mulheres gostaria disto.

Em minha experiência, as coisas da vida doméstica são zelosamente guardadas pela maioria das mulheres.

Uma amiga resmunga sobre a relutância do marido em lidar com os pequenos detalhes da vida de seus filhos, mas se pressionada, ela admitirá a importância dele como eixo central da família.

E não há nada mais íntimo em relação a isso do que a fertilidade da mulher, e sou cética sobre se muitas de nós iriam querer transferir nossa responsabilidade sobre isto.

Ou, sendo franca, se for altamente eficaz, com efeitos colaterais suportáveis, e a contracepção masculina tornar-se universal, isto poderia marcar o fim do fenômeno muito comum do “não-tão-acidental-bebê-surpresa” e do “bebê-vindo-de-uma-garrafa-de-vinho”, que acontece até com casais sensatos.

Porque, vamos encarar, se todas as mulheres tiverem que esperar o homem se sentir “pronto” (e também coincidindo com o término do efeito da injeção…), a taxa de natalidade cairia como uma pedra.

Estou dizendo que existem homens lá fora que não querem nada mais do que convencer, ou mesmo enganar, suas esposas relutantes em ter mais filhos, e, pra isso, enviariam uma embalagem vazia ao médico para receber nova injeção (eles vão receber um certificado para provar isso, eu pergunto?), mas, francamente, esses caras são com certeza a minoria.

Um cenário bem mais comum – e que é uma constante no site de sobre parentes, o Mumsnet – é uma mulher desesperada para um primeiro, segundo ou terceiro filho com um homem sem vontade e muito determinado.

Esta situação, especialmente para a mulher que sente que o tempo está se esgotando, tende a causar não apenas tristeza e angústia, mas também uma espécie de frustração furiosa. A sensação de que seus direitos humanos foram de modo injusto e sem razão negados.

Enquanto for tabu dizer isso, muitas mulheres sentem, de forma primitiva, que devem ter a última palavra sobre quantos bebês terão e, portanto, vem daí o grande número de bebês “surpresa” por aí.

É raro que mulheres, atualmente, mintam sobre o uso de contraceptivos, mas não tão raro que chorem, implorem, fiquem mal humoradas, retenham favores sexuais ou, simplesmente, parem de usar métodos de contracepção, deixando que o homem tome as precauções possíveis a ele, o que, sem usar métodos de contracepção, deixaria apenas ao homem tomar as precauções disponíveis a ele, o que, por sorte, muitos não gostam de fazer.

Como disse, o assunto é tabu. Mas uma mulher, feliz em se expressar sobre o assunto e sua crença de que homens não devem ter muito a dizer sobre o assunto, é a mãe de quatro filhos, Jerry Hall.

Em seu papel como “tia da agonia”, ela, sem meios termos, disse a uma mulher que desejava uma terceira criança, mas a que o marido se opunha: “Querida, lembre-se, quanto mais você faz amor, mais chances há de um acidente feliz… As chances são de que ele vai se acostumar com isso.”

“Senão, ter um bebê mais tarde na vida é uma ideia especialmente boa: você receberá pensão alimentícia até praticamente estar aposentada.“

Chocado? Talvez. Mas, é certo, Jerry está muito orgulhosa de seus quatro filhos. E Mick Jagger?

Bem, foi divertido enquanto durou, mas você percebe que Jerry acredita que os homens podem ir e vir, mas as crianças são para sempre.

O que nos leva a outro problema com o contraceptivo masculino.

Embora possa ser uma conquista em um relacionamento sério, onde uma mulher realmente não quer mais bebés e sofre com efeitos colaterais desagradáveis do uso de contraceptivos (que, provavelmente, deveriam ser obrigatórios para determinados jogadores de futebol de elite), para a maioria das mulheres, a ideia de um homem solteiro tão contrário a ter filhos, e com acesso a uma vacina, é extremamente desinteressante.

O mesmo vale para a vasectomia. A maioria das mulheres solteiras correria quilômetros do homem que tenha feito uma e, mesmo que não tenha algo decidido sobre ter filhos, nós realmente não gostamos de homens tomando decisões unilaterais, seja sobre cortinas ou bebês.

Entretanto, conheço mulheres que se esforçaram para que os maridos fizessem vasectomia, mas não apenas por que significa que elas não precisam usar contraceptivos, mas porque, como foi confessado: “O que eu gosto sobre a vasectomia é que agora ele pode nos deixar e sair e não terá filhos com outra pessoa.”.

Vamos encarar: se ele é estéril, não correrá o risco de encontrar uma mulher com metade da minha idade e fugir com ela e, com isto, eu seria dispensada.

Se a vacina é reversível, bem, eu não teria essa segurança.”

– Leah Hardy, “Of course we women don’t want a male pill – it would end those happy little ‘accidents'”, Daily Mail, 18.02.2010. http://www.dailymail.co.uk/femail/article-1251868/Of-course-women-dont-want-male-pill–end-happy-little-accidents.html

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