“Se está naturalizado, como tachar de machista poderia desqualificar alguém?”


Fonte:   https://7uvw.xyz/ladodireitodaequidade/karen-straughan/naturalizado-tachar-machista-poderia-desqualificar-alguem/  

– Karen Straughan, A Voice for Men, 2014.

Segundo feministas, nossa sociedade tem um grande problema com misoginia sistêmica. De fato, todas as sociedades estão atoladas em misoginia social onipresente e institucional. Nas sociedades patriarcais, essa misoginia não apenas é normalizada, como frequentemente é invisível para a plebe não feminista como eu, porque estamos tão acostumados com ela que simplesmente não a enxergamos. Nós teríamos internalizado a ideia de que é normal odiar as mulheres.

Ainda assim, por décadas, talvez até mais, uma das mais confiáveis técnicas de humilhação que feministas e “defensores das mulheres” tem usado para intimidar ou silenciar os homens (e algumas mulheres), é a acusação de misoginia. Fala algo que uma feminista não gosta? Você será chamado de misógino. Critica teorias ou ações do feminismo? Misógino. Discorda da análise feminista de um problema, ou tem objeção à solução proposta? Seu misógino imundo. Você apenas diz essas coisas porque odeia as mulheres. Mesmo se você for uma mulher, não consegue escapar disso – não, você sofre de misoginia internalizada, não sabia? E muito estranhamente, até não muito tempo atrás, essa tática de humilhação era realmente efetiva – especialmente contra homens.

Apenas depois que as feministas estilo Jezebel passaram a abusar seriamente dessa tática de humilhação que as pessoas comuns começaram a desenvolver uma resistência a ela. Alguns homens começam a NÃO se calar no momento em que uma feminista usa a carta “M”. Aliás, a maioria dos homens resistentes a humilhação [como relógios resistentes a água] estão falando com uma camada de proteção entre a acusação e suas vidas diárias – no anonimato relativo da internet. Nós ainda não chegamos ao estágio em que jogar a bomba “misoginia” sobre um homem não possa danificar seriamente sua vida, carreira ou posição social. Mas estamos chegando lá.

Mas nos conviria considerar como sequer é possível que uma acusação de misoginia carregue qualquer poder em uma cultura onde a misoginia é universal e normalizada. Lembre-se, nossa sociedade odeia as mulheres. De acordo com a jornalista de tecnologia estadunidense Quinn Norton, aparentemente a resposta da cultura hacker para Anita Sarkeesian, homens nesta sociedade são criados para odiar as mulheres. Sua prova? Trolls que atacam mulheres online (os quais, nós devemos então supor, nunca atacam homens).

Então lá vamos nós – de acordo com ela, o problema não é um punhado relativamente pequeno de completos babacas potencializados pelo anonimato da internet a atacar qualquer um e todos que cruzarem seus caminhos, por motivos que só eles sabem, e que modelam seus insultos e trollagem à audiência alvo (ameaças de estupro para mulheres, ameaças de morte e acusações de “viadagem” para homens)… Não, é porque os homens (não alguns, não muitos, não uns poucos, apenas “os homens”) são criados para odiar as mulheres.

Misoginia não é a atitude de um indivíduo – é um valor cultural chave de nossa sociedade, um valor que os homens (novamente, sem qualificativos, tão generalizante) são criados para internalizar.

E ainda assim, a maioria dos homens acusados de misoginia se sente envergonhada. Vergonha suficiente para ou se calarem ou tentar desesperadamente explicar que eles não são realmente misóginos. Por que eles fariam isso se tivessem sido criados para odiar as mulheres em uma cultura onde misoginia é um valor cultural normalizado?

A acusação só poderia ter poder de envergonhar e calar alguém se a sociedade não fosse universalmente misógina. O poder de um insulto é o poder de fazer carregar o peso da desaprovação da sociedade. Requer que a cultura em geral desaprove o comportamento, atitude ou atributo alvo do insulto. O fato de que uma acusação de misoginia funcione como tática de humilhação para silenciar e intimidar pessoas, ou causar danos às suas vidas e status social, na realidade refletiria que nossa sociedade não é universalmente misógina – pelo menos, não no sentido do dicionário de que misoginia é uma atitude de ódio ou de não gostar das mulheres. O fato de que essa acusação parece particularmente efetiva quando usada contra homens também demonstra que Quinn Norton está meio que falando titica. Se odiar as mulheres fosse um valor normalizado pela cultura, e se homens fossem criados para odiar as mulheres, então chamar um homem de misógino deveria ter tanto poder quanto xingar um membro da Klu Klux Klan em 1920 de “odiador de crioulo”.

Então neste sentido, essa tática feminista de humilhação padronizada na verdade desacredita a ideologia feminina.

Mas vai além que isso.

Agora vamos ver o oposto. Misândrico. Chame alguém de Misândrico e se ele(a) realmente souber o que significa, você não obterá vergonha ou correção de comportamento, mas um erguer de ombros seguido por um “pois é, dane-se”, da maioria das pessoas. De outros, você receberá um olhar perplexo, e, de outros, ainda, você terá risadas, referências a “male tears” e “sentimentalismo mascu” e a resposta alegre de que “misandria não inzésti”. Algumas feministas mais instruídas dirão que misandria na verdade é apenas um efeito secundário da misoginia – que misoginia é a raiz causal de todo sexismo, e misandria é apenas um desafortunado efeito colateral que não existiria sem misoginia. Subentende-se que a misandria, como num passe de mágica, irá desaparecer uma vez que tenhamos exposto e desentranhado toda a misoginia na sociedade, devidamente livrando dela as nossas imundas almas machistas.

Mais que isso, empresas de mídia social como twitter e facebook estão trabalhando ativamente, com ajuda de “treinamento” feminista, para erradicar conteúdos misóginos de seus sites. Camisetas razoavelmente inócuas foram tiradas das prateleiras após pessoas ultrajadas fazerem objeções à mensagem “uma garota pode ser muito linda para fazer dever de casa, então ela faz seu irmão fazê-lo!”. Que mensagem terrível e astuciosamente danosa para espalhar sobre mulheres e garotas!

Por outro lado, hashtags, memes e grupos de facebook abundam, orgulhosamente proclamando coisas como “homens são porcos”, ou “matem todos os homens”. Existe até mesmo um site chamado ihatemen.org que ostenta um quarto de milhão de usuários. Há também uma serie de livros infantis, com marketing veiculado, chamada “Meninos são estúpidos, jogue pedra neles“. Conferências internacionais radfem com o nome SCUM Manifesto atraem feministas de todas as partes do mundo, algumas com cargo de docência em universidades importantes.

Numa cultura onde o desprezo por homens e garotos é tão onipresente e permissível, não é de se estranhar que a maioria das pessoas não possa ou não queira se envergonhar e silenciar, ou alterar seu comportamento simplesmente por haver sido acusada de misandria. Embora muitas pessoas acusem as feministas de misandria, ou acusem as feministas de odiar homens, a acusação de simplesmente não possui poder de silenciar ou fazê-las parar o que fazem. Isto porque os valores da sociedade são tais que mesmo que odiar homens não seja exatamente considerado como “ótimo”, não há mal real nisso, especialmente se a odiadora for uma mulher.

Então se a misoginia está na raiz de todo sexismo, e misandria é apenas um desafortunado efeito colateral dela – você sabe, misoginia secundária ou “o machismo/patriarcado prejudica os homens também”, então por que é tão mais aceitável socialmente expressar raiva e desprezo pelos homens do que pelas mulheres? E como raios é possível que a acusação de misoginia de fato resulte em alguém se calar e ir embora?

– Karen Straughan, “Como algumas táticas de humilhação feministas desacreditam a teoria feminista,” A Voice for Men, 24.02.2014. http://br.avoiceformen.com/recomendados/como-algumas-taticas-de-humilhacao-feministas-desacreditam-a-teoria-feminista/

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