“Mulher não está no topo do mercado de trabalho porque não quer.”


Fonte:   http://bit.ly/2itcHFn  

– Dra. Susan Pinker (1957-), Depto de Psicologia, McGill U., Canadá,


McGill U.:
Na última lista de pessoas mais ricas do mundo publicada pela revista Forbes, apenas três mulheres apareciam entre 25 bilionários. Destas, duas herdaram suas fortunas dos pais e uma se casou bem, muito bem. Mesmo na lista das 20 mulheres mais afortunadas do planeta, também da Forbes, encontramos somente uma que subiu socialmente por conta de sua profissão. Até entre as que não estão no topo, a diferença grita: em geral, a média de seus salários é 85% dos salários masculinos. Por outro lado, levantamentos nos Estados Unidos, Japão, Coréia, Suíça, Suécia, Inglaterra e Canadá, mostram que elas ganham com folga na escala de satisfação profissional. Como isso é possível? A psicóloga canadense Susan Pinker acredita ter decifrado parte da resposta: e ela está – literalmente – inscrita no corpo da mulher.

Em seu livro “O Paradoxo Sexual: hormônios, genes e carreira”, lançado recentemente no Brasil, Susan disseca o organismo, a mente e o DNA femininos para mostrar por que elas simplesmente optam por carreiras e vidas de menores fortunas – e, ainda assim, são mais realizadas do que os homens. “Durante a última década, houve uma mudança na economia, de um foco exclusivo na aferição de riquezas para uma análise do que impulsiona a longevidade, a satisfação e a felicidade”, escreve Susan em seu livro.

Como apontam várias pesquisas, não é mais possível explicar as diferenças de salário com a falta de oportunidades. No Brasil, por exemplo, o tempo médio de estudo das mulheres já é superior ao dos homens e, nos Estados Unidos, as mulheres ocupam 58% das vagas nas universidades. Ora, se elas têm acesso às mesmas oportunidades e são tão inteligentes quanto eles, por que, afinal, ainda ocupam cargos mais baixos? A resposta de Susan é: escolha.

Quer um argumento estatístico? Nas grandes corporações americanas, 89% dos profissionais que optam por trabalhar horas reduzidas são mulheres. E cerca de 60% das mulheres talentosas recusam promoções ou assumem colocações com remuneração inferior para garantir a flexibilidade ou um propósito social em suas vidas profissionais. A canadense Sandra*, personagem real do livro de Susan, é um exemplo. Advogada bem-sucedida e dona de um excelente guarda-roupa, abandonou 12 anos de rotinas de 14 horas de trabalho para dedicar-se mais aos dois filhos. “Pensei que o trabalho fosse um lugar em que você pudesse se realizar. Mas era ingênua. O trabalho é somente trabalho”, conta.

Segundo Susan, histórias como a de Sandra acontecem porque a biologia da mulher a impulsiona para atividades diferentes – e até para o equilíbrio. “A captação de imagens cerebrais e a neuroendocrinologia revelaram muitas das redes de comunicação biológicas que estão por trás dos desejos das mães estarem com seus bebês”, diz. “A amamentação, em particular, libera hormônios e neurotransmissores que induzem a euforia nas mães”.

E elas gozam, naturalmente, das vantagens por serem menos radicais. “As mulheres são mais saudáveis do que os homens e têm expectativa de vida maior. E a tendência das mulheres de demonstrar empatia e de estabelecer vínculos com as outras pessoas lhes conferem benefícios cognitivos, assim como vantagens de saúde”. Mesmo quando uma mulher cuida de qualquer outra pessoa que não seu filho, explica a pesquisadora, esse ato libera hormônios que diminuem o estresse. Isso explicaria os grandes números de mulheres voluntárias no mundo todo – só no Canadá, elas são 90% de todo o voluntariado do país.

A hipótese do gênero de baunilha

Esperar que as mulheres estivessem hoje exatamente nas posições antes tomadas pelos homens é o que Susan chama de “hipótese do gênero de baunilha”, ou seja, a hipótese de que a mulher é apenas uma variação do homem, quando ela é, de fato, diferente.
McGill U.:
As diferenças fundamentais estão desde fenômenos biológicos que atraem a mulher para o lar e para rotinas menos puxadas, como a amamentação, até diferenças genéticas como a maior disposição masculina ao risco, ou maior variação na escala de QI. Segundo uma pesquisa feita com escoceses, a média dos QIs das mulheres e dos homens é praticamente igual, mas há um número superior de homens nas escalas mais altas e nas mais baixas de QI. Para a pesquisadora, isso significa que é muito mais fácil encontrar um Einstein ou uma pessoa limitada no universo masculino e que as mulheres são, em geral, muito mais estáveis que os homens. “Enquanto isso, um apetite aumentado pela competição e pela ousadia leva alguns meninos e homens a feitos espetaculares – e, outros, a taxas tragicamente elevadas de acidentes e suicídios”.

O problema da hipótese do gênero baunilha é não entender que existem, na verdade, mais de uma maneira de ser bem-sucedido. “Tudo o que estivesse relacionado ao modelo masculino de sucesso era antes considerado mais valorizado”, diz a pesquisadora. “Mas tanto o perfil típico masculino quanto o perfil típico feminino – e todas as gradações entre eles – possuem virtudes que os tornam defensáveis. Nenhum deles é melhor ou pior, ou é mais precioso para a sociedade”.

Como apontado no início desta matéria, sim, as mulheres ainda ganham menos que os homens. Mas esses dados não retratam, de maneira alguma, a derrota do feminismo. Pelo contrário, eles mostram o surgimento de um novo tipo de feminismo. “Em vez de evidenciar preconceitos ocultos, algumas assimetrias de gênero no local de trabalho são indícios de uma sociedade livre e esclarecida – em que os indivíduos são capazes de fazer suas próprias escolhas”, diz Susan. Inclusive se essas escolhas incluírem (por que não?) ser um pouquinho mais à moda antiga.

– Mariana Lucena, “Mulher não está no topo do mercado de trabalho porque não quer, diz psicóloga”, Revista Galileu, 2008. http://glo.bo/29Jm2UQ

Comentários