“Mulheres serão primeiras a sofrer com campanha contra ‘cultura do estupro’.”


Fonte:   http://bit.ly/2g4NLlp  

– Partido da Causa Operária, 2016.


PCO:
Para a corrente interna do Psol liderada por Luciana Genro, o Movimento Esquerda Socialista (MES), que se considera marxista, a violência contra a mulher é um problema “cultural”, ou seja, puramente ideológico, e não parte da luta de classes: é o que toda a esquerda pequeno-burguesa e a burguesia estão chamando de “cultura do estupro”.

Isso significa que para os “trotskistas” morenistas do MES, assim como que para a rede Globo, trata-se de mudar o pensamento, seja lá qual seja esse pensamento, e não de mudar as relações entre as classes sociais que coloca a mulher como uma parte da sociedade duplamente explorada no capitalismo.

Este pensamento não é um caso isolado. A política de organizações como o MES e da esquerda pequeno-burguesa em geral alimenta as mesmas posições idealistas sobre a corrupção, sobre os direitos de negros e homossexuais, sobre a luta das massas e várias outras coisas.

Essa posição reacionária em relação a sociedade conduz a uma política reacionária de frente única repressiva com o Estado capitalista. Para “combater a mentalidade machista”, como quer o MES, é preciso colocar em prática um sistema de controle do pensamento e de repressão policial que o Estado capitalista estaria encarregado de fazer.

Motivado pelo denúncia do estupro coletivo de uma menina de 16 anos no Rio de Janeiro, que tomou conta dos jornais da imprensa capitalista nos últimos dias e que motivou uma verdadeira histeria de tipo policial, não só da burguesia mas dessa mesma esquerda pequeno-burguesa, o MES publicou um artigo intitulado “Precisamos falar sobre a cultura do estupro”.

As repercussões do caso, independentemente de todas as histórias e das barbárie que podem estar implicadas nele, mostra para onde vai a política do controle do pensamento, ou seja, a política “contra a cultura do estupro”.

O golpista Michel Temer anunciou que irá tomar novas medidas repressivas, o Ministro da Justiça de Temer, ex-secretário de Segurança de Alckmin também tratou de anunciar medidas, abriu-se uma verdadeira campanha de controle da internet, e até o governador do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, afirmou que o crime de estupro merece a pena de morte.

Fica fácil de perceber para onde vai a ideia da esquerda pequeno-burguesa de que é preciso mudar a mente e não organizar as mulheres para a luta de classes. Uma repressão aberta contra a população pobre.

É isso o que o MES defende: “Essa cultura doente que subjuga a mulher é tão instalada na sociedade que homens agressores se sentem na liberdade de publicamente, na mídia e nos veículos de humor colocar a violência como piada ou troféu”. É preciso que tais manifestações sejam coibidas. A pergunta é: quem vai coibir tais manifestações contra a mulher? A resposta é simples: o aparelho judicial e policial do Estado capitalista. Se o Estado capitalista em geral – nem falar que o atual governo golpista é dominado pelos piores direitistas – pode censurar com a desculpa de “machismo”, quem será censurado? Quem definirá a censura? Certamente não será o MES, certamente não será a classe operária, certamente não serão as mulheres.

Mas o MES quer ainda mais “ajuda do Estado capitalista: “Não há justiça capaz de responder essa agressão, mas haverá luta para que todos sejam punidos e que a cultura do estupro e o feminicídio acabem!” A punição para todos parece ter se transformado na principal bandeira de luta da esquerda pequeno-burguesa. Diante disso, cabem as mesmas perguntas do parágrafo acima: serão as mulheres e suas organizações de luta que irão punir?

Só mesmo uma esquerda de classe média totalmente iludida com as “instituições democráticas” e, por isso, completamente manipulada pelas campanha histéricas da burguesia pode acreditar que a maior repressão e o fortalecimento do poder do Estado capitalista poderá resolver os problemas das mulheres.

Se a campanha contra a “cultura do estupro” for bem sucedida, as mulheres serão as primeiras a sofrer com o resultado dessa campanha. Como sempre, a corda vai estourar do lado mais fraco, é isso a única coisa que se pode esperar de uma campanha de “controle do pensamento”.

O problema da violência contra a mulher não é o que pensam os homens, não é o que pensa a sociedade, não é um simples problema de “cultura”. Tudo isso é a expressão de uma forma de dominação e exploração geral na qual se inclui a exploração e a opressão da mulher. É preciso acabar com essa exploração, é preciso que as mulheres se organizem politicamente para lutar contra essa exploração, contra a direita cujo programa é defender essa opressão.

A luta contra a opressão da mulher é uma luta contra o Estado capitalista, contra a burguesia e, portanto, um aspecto da luta de classes. Não uma difusa ‘luta cultural’.

– Partido da Causa Operária, “MES/Psol: “cultura do estupro” ou luta de classes”, Diário Causa Operária, 6.06.2016. http://bit.ly/1Yc3BJY

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