Mulher agride homem para mostrar que mulheres são assediadas


Fonte:   http://bit.ly/2dhCCfW  

G1, 2015.

Uma cena protagonizada por uma suposta vítima de assédio no calçadão, no Centro de Ribeirão Preto (SP), causa polêmica nas redes sociais desde o fim de semana passado. O vídeo, que foi visto em uma rede social por mais de 1 milhão de pessoas, mostra a jovem estapeando e pisando um homem. Ela tira a blusa e esfrega os seios no rosto do rapaz enquanto protesta por causa de uma cantada.

A gente quis só expor algo [o assédio] que acontece todos os dias aqui no Centro, com as nossas amigas, com as nossas irmãs”
Fausto Ribeiro, diretor da peça

A atitude da mulher impressiona, mas a cena compartilhada na internet e criticada, até mesmo zombada, por parte de milhares de usuários faz parte, na verdade, de uma intervenção cultural.

“É uma cena muito isolada de um todo que tem 40 minutos, e a gente quis só expor algo [o assédio] que acontece todos os dias aqui no Centro, com as nossas amigas, com as nossas irmãs, que vão tomar um café, e é batido esse tema. É um tema que já foi muito criticado”, disse o diretor da peça “Feliz Ano Novo”, Fausto Ribeiro.

No vídeo acima é possível ver o trecho divulgado na internet e a continuação da cena, registrada pela reportagem do G1 durante reapresentação da peça, na terça-feira (26). A nova encenação atraiu novamente os olhares de quem passava pelo calçadão de Ribeirão, mas, desta vez, causou menos impacto.

Para a professora Débora Melo, que acompanhou a encenação na terça-feira, a polêmica do vídeo é provocada pela nudez da personagem. “É porque tem nudez, o que é bobo, porque é só um peito. Homens saem por aí sem camisa e não causam tanta polêmica”, avalia.

O vídeo foi compartilhado também por quem, sem saber da peça, concordou com a reação da mulher ao bater no homem que a assediou na rua. “Deveria ter ficado quieto”, escreveu um internauta desavisado na descrição do vídeo publicado no YouTube e que reproduz a cena com o título “Barraco no calçadão de Ribeirão Preto”.

Outro internauta condenou a atitude da mulher. “Ridículo essa mulher achar que vai mudar algo assim”, publicou.

‘Grande tribunal’

Os idealizadores da peça, membros do grupo Confluências, se disseram assustados com a repercussão do vídeo com a cena teatral. “Espanto é a palavra, mas ao mesmo tempo eu acho bom se discutir e isso ter vindo à tona”, afirmou o diretor.

Segundo Ribeiro, embora a discussão sobre o assédio nas ruas seja válida, o papel da atriz foi duramente criticado. “Virou um grande tribunal, exposição de julgamentos, sem conhecer um trabalho profundo, aquilo é uma edição de um trecho muito maior”, disse Fausto Ribeiro.

De acordo com os criadores, o tema central da peça “Feliz Ano Novo” é uma crítica ao consumismo. “É uma ironia a quem só vem aos centros urbanos para comprar, consumir, gastar, comer e beber. Tem todos esses pretextos, e é performático ao modificar o fluxo do calçadão, trabalhando com essas imagens dentro de um jogo com a cidade”, explicou Ribeiro.

A cena em que a personagem interpreta a promotora de vendas entregando panfletos e é assediada por dois homens continua de forma “absurda”, segundo o diretor.

“A sequência da cena é tão absurda, que ela tira da pochete um revólver de plástico. É que a edição desse vídeo só mostra um pedaço da briga, mas tem um outro lado que é muito engraçado. A gente passa pela crítica e leva para o público achar que tudo não é real, o público vê que isso é teatro, e de repente começa quase que uma grande dança, um flash mob”, comentou.

– Felipe Turioni, “Cena de peça em que mulher agride homem viraliza como se fosse real”, G1, 28.05.2015. http://glo.bo/2dx3s1y

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