“A mulher-vítima é uma das Grandes Mentiras do nosso tempo.”


Fonte:   http://bit.ly/2bLOC5q  

– Wendy McElroy (1951-) autora de Liberdade para as Mulheres: Liberdade e Feminismo no Século XXI, 2003.

Wendy McElroy: “A mulher-vítima” é uma das Grandes Mentiras do nosso tempo. Aqueles que se preocupam com o bem-estar das mulheres deveriam corrigir os danos causados por essa mentira, porque, hoje mais do que nunca, as mulheres precisam reconhecer seu poder e assumir o controle sobre suas vidas.

Nada mais parece protegido desde 11 de setembro [de 2001].

Tensões globais saíram de controle, o terrorismo ameaça todos cidadãos, os jornais estão repletos de fotos de crianças iraquianas de quebrar o coração e que nos deixam nos sentindo impotentes para mudar qualquer coisa. Você pode desligar a TV por um tempo, mas outra incerteza é mais difícil de escapar: a economia.

Todos que eu conheço parecem estar preocupados com manter o emprego e com o aumento dos preços. Um vizinho voltou a trabalhar porque sua aposentadoria incluía ações da empresa que agora valem menos de 5% do seu valor máximo. Um amigo sobreviveu à última rodada de demissões em um emprego de alta tecnologia. Um conhecido que tenha sido demitido há duas semanas – mais uma vez! – pegou uns turnos de cozinheiro em um bar local e grill.

As mulheres de hoje precisam assumir o controle sobre suas vidas. Mas acreditar no seu próprio poder torna-se mais difícil pelo tipo de feminismo que celebra “a vítima” como um símbolo de feminilidade. Vítimas de homens, da estrutura de classe, da tecnologia, do governo, do livre mercado, da família, da igreja, dos valores ocidentais… em todas as situações as mulheres estão pintadas como vítimas. Essa Grande Mentira permanece como uma barreira para as mulheres concretizarem o seu poder de pelo menos três maneiras.

Primeiro, as “soluções” propostas e defendidas pela maioria das feministas têm feito as mulheres menos, não mais, independentes. Pode ser verdade que agora há muitas mulheres em áreas como há na pesquisa. Mas tais avanços estão firmemente amarrados a leis e políticas obrigatórias, tais como as de ação afirmativa, que impõem quotas. A mensagem clara destas leis e políticas é que mulheres não podem competir com homens no livre mercado. Mulheres necessitam de assistência governamental para terem sucesso.

E, por isso, a prosperidade das mulheres torna-se dependente de privilégios do governo e de um sistema de controle social, que transfere o poder das mãos dos indivíduos para as de políticos e do governo. Esta é uma entrega de poder por cada ser humano, incluindo as mulheres.

Segundo, a Grande Mentira leva muitas mulheres a acreditar em sua falta de controle e em culpar tudo e todos pelas seus problemas, menos a si mesmas. Na verdade, há sempre alternativas e as pessoas estão sempre fazendo escolhas. Às vezes, nenhuma alternativa é boa, mas isso não nega o poder que cada indivíduo sempre tem: o de escolher. É assim que você domina um desafio e pode, finalmente, superá-lo.

A superação pode ser um caminho árduo e longo, eu sei. Eu fugi de casa aos 16 anos e trabalhei ganhando salário mínimo para poder comer. Embora eu tenha me sentido absolutamente impotente, eu não era. E, aproveitando todas as oportunidades que eu encontrei, eu consegui lentamente expandir minha gama de escolhas.

O terceiro e, talvez, mais danoso efeito da Grande Mentira é que muitas mulheres investem suas emoções e energia na raiva ao invés de no remédio. Isso é verdade mesmo para mulheres que nunca estiveram sem teto, com fome, ou que foram vítimas de violência. Ao invés de atacar seus problemas, elas atacam pessoas que nunca lhes fizeram nenhum mal – homens como um todo, homens que nunca conheceram. E, por isso, mulheres ora celebram sua vitimização, ora extravasam sua raiva, e nenhuma das duas é capaz de resolver seus problemas.

Às vezes é difícil não sentir raiva. Por exemplo, quando uma mulher é espancada pelo marido, é natural ela odiá-lo. Mas odiá-lo não significa ignorar o seu poder. A primeira pergunta a se fazer a uma mulher espancada é: “Por que você fica com ele?” Em muitos casos, as mulheres passaram a acreditar na sua própria vitimização. O que elas precisam acreditar é no poder das suas próprias escolhas.

Crime e violência tendem a aumentar durante períodos de desemprego e agitação social. E, infelizmente, parece que vamos nessa direção. A economia não vai se recuperar rapidamente, o medo do terrorismo não vai desaparecer, a controvérsia em torno da guerra no Iraque vai continuar. A maioria entre nós verá nossos amigos sem trabalho, reduções reais de renda, e um aumento da incivilidade entre facções opostas. Estes são tempos que exigem auto-controle e auto-suficiência.

As mulheres precisam abandonar a Grande Mentira e retomar a responsabilidade e controle sobre suas vidas. Talvez uma boa maneira de começar é estudar como mulheres em países menos desenvolvidos vivem. Sem livre mercado e sem tecnologia, elas vivem na miséria, à beira da inanição. Sem ideais ocidentais de direitos de propriedade e igualdade perante a lei, elas não têm nenhuma proteção contra a violência.

A Grande Verdade é que mulheres na nossa sociedade constituem uma das classes mais privilegiadas e poderosas de seres humanos do planeta. O desafio é fazer com que as mulheres acreditem no seu poder. “A mulher-vítima” é uma idéia obsoleta e que deve dar lugar à idéia da mulher-lutadora e da mulher-vitoriosa.

– Wendy McElroy, “A Grande Mentira”, iFeminists, 22.04.2003. http://bit.ly/28NtBsd

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