“Todo homem cis é ‘machista’. Faz parte do grupo opressor.”


Fonte:   http://bit.ly/1sICKcg  

– Luana Toro, autora feminista, 2016.

"Todo homem cis é 'machista'. Faz parte do grupo opressor."

Não me leve a mal se você é um homem e está lendo isso, mas eu não quero e não preciso de feministos na minha luta. Também não venha com comentários agressivos, lembre-se de que esse não é o seu lugar de fala. Agora, para você, homem que está aberto a entender e manas que ainda estão em dúvida, que desejam saber um pouco mais sobre esse posicionamento ou gostam de ler sobre feminismo, vem cá, vamos conversar!

Há quatro anos, quando eu descobri o movimento eu pensava que deveríamos todos nos unir em prol da igualdade de gênero. Mas meu feminismo mudou com o tempo, minhas ideias foram amadurecendo, eu li muito, questionei muito e desconstruí muito. Como contei em outro post, hoje, eu penso que, ao invés de igualdade, precisamos de equidade e que não existem homens feministas, assim como não existem mulheres machistas.

Por que você vai chamar de feminista e dar tanto espaço dentro do movimento para aqueles não são vítimas do machismo? Como o feminismo seria para todos se um gênero é privilegiado e o outro é oprimido? Por que eu dividiria o meu protagonismo com o opressor? Desculpem, mas já não basta todos os privilégios que eles têm? Já não basta estar acima das mulheres em todas as esferas, política, social e econômica? Eu me sinto ainda mais oprimida quando alguém me diz que homens também devem ter um lugar no feminismo.

Talvez, muitos agora discordem de mim nesse ponto e, tudo bem, opiniões divergem. Mas, para mim, todo homem cis é machista (ainda estou amadurecendo a ideia sobre homens trans). Ele já nasce com os privilégios do seu gênero e nunca vai saber como é ser oprimido pelo machismo. Não adianta. Reconhecer esses privilégios, desconstruir comportamentos e pensamentos é o mínimo que você, homem, pode fazer. No entanto, mesmo assim, você continua fazendo parte do grupo opressor. Quando você é promovido e ganha 30% a mais que a sua colega na mesma posição, não foi uma escolha sua como individuo, mas a sociedade lhe colocou nessa posição. Assim como eu não escolhi ser oprimida, você não escolheu, mas é machista.

É importante levar em consideração que opressão não se relaciona apenas com abuso físico ou psicológico. Opressão está ligada à estrutura da sociedade. E nós vivemos em uma sociedade regida pelo machismo, onde o opressor é o homem e nós, mulheres, somos oprimidas. Então, não me venha com o seu mas nem todo homem. Você não controla a opressão, ela depende de um sistema, de uma cultura. E toda vez que você se cala diante de uma piada machista, tira o emprego de uma mulher por ser homem, recebe a conta primeiro no restaurante ou não carrega consigo a obrigação moral de ter um filho, você está compactuando com o machismo. Você pode não querer, mas é assim que acontece.

A partir do momento em que você é opressor, você não pode ditar a luta do oprimido. O que um homem pode fazer, então, é apoiar. É, na medida do possível (porque, às vezes, dentro desse sistema não é), não ter atitudes machistas. Você, homem, pode deixar de agir como um babaca objetificando mulheres ou sendo abusivo. Desconstrua, mude comportamentos, mude o pensamentos dos seus amiguinhos. Você deve compartilhar tarefas domésticas, deixar de usar TPM como desculpa para os seus erros, parar de estereotipar mulheres, não interromper sua falar, não tomar créditos, não fazer slutshaming… Enfim, a lista continua e continua!

Isso faz de você um homem feminista? Não. Isso faz de você um homem pró-feminismo. O que significa que de maneira alguma (sério, jamais, nunca, never) os homens podem nos ensinar a militar. Jamais venha me dizer que tirar a blusa na Marcha das Vadias é exagero ou que somos militantes de sofá. Nunca ouse falar que o feminismo perdeu o seu sentido ou criticar uma mina pelas atitudes dela dentro do movimento. Não venha querer dizer o que incomoda, o que é relevante ou não. O foco do movimento feminista são as mulheres, certo? Logo, nós somos as únicas que podemos definir e construir o movimento, somos as protagonistas. Ponto final.

Nós não estamos segregando os homens ou sendo sexistas quando fomos silenciadas a vida inteira e tomamos o movimento como um espaço de discussão política para nos dar voz. Homens têm que entender que quando o assunto é feminismo, eles estão na plateia. O palco é inteiramente nosso e o feminismo é o que nos dá a chance de estrelar. Homens são aliados do movimentos, mas não estão – e nunca estarão – na linha de frente.

E eu não sou babá feminista. Não sou obrigada a ficar explicando feminismo para um homem. Porque, sinceramente, eu prefiro mil vezes empoderar outras mulheres. É a partir disso que conseguimos visibilidade e mais força. É unindo as manas que vamos conquistar nosso espaço, não convencendo os homens a nos darem licença. Porque eles estão ocupando um lugar que deveria ser nosso também há muito tempo!

Tomem muito cuidado quando vocês virem esquerdo-macho compartilhando imagem em prol do feminismo no facebook. Às vezes, ele só quer criar uma imagem para pegar umas minas. Cansei de ver isso, de verdade. Várias meninas que acharam o cara é incrível porque ele “tenta” não ser opressor, quando, na verdade, ele está sendo totalmente abusivo. Já cansei de ver homem usando discurso feminista para manter ainda mais privilégios, para continuar segurando a nossa coleira.

Quando eu digo não, eu não quero homem no meu feminismo, eu estou resistindo. Não quero os homens ocupando o único espaço que é exclusivamente meu! Eu quero um movimento de mulheres. De amigas que entendem o que eu passo. De pessoas que me confortem, que me deem força, que lutem comigo. E, você, querido homem, não está incluso nessa. Então, reconheça, aprenda, desconstrua e saia da frente, porque eu quero (e eu vou!) continuar com o meu feminismo e abraçar somente as minhas irmãs. Eu não preciso da sua permissão, eu não preciso do seu reconhecimento, eu não preciso de você no meu feminismo.

Eu espero que os meus pontos tenham sido claros. Se você concorda ou tem uma opinião diferente, vamos conversar nos comentários pacificamente, tudo bem? Beijos feministAs! Com a maiúsculo.

– Luana Toro, “Homem no meu feminismo? Não obrigada!”, Entre Anas, 11.04.2016. Original: http://bit.ly/1sICNEN

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