– Miriam Abramovay, Universidade Católica de Brasília e Observatório de Violência nas Escolas, 2011.
É o que revela o mais completo levantamento sobre agressões no namoro, realizado pelo Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Foram pesquisados 3.200 estudantes de 104 escolas públicas e privadas em dez Estados. A conclusão é chocante. Nove em cada dez adolescentes afirmaram praticar ou sofrer violência no namoro. E quem mais bate são as meninas. Quase 30% delas disseram agredir fisicamente o cônjuge. São tapas, puxões de cabelo, empurrões, socos e chutes. Entre os meninos, 17% se disseram agressores. Essa violência não distingue situação social. Metade da amostra é das classes A e B. “As meninas estão reproduzindo um padrão estereotipado do comportamento masculino”, diz uma das coordenadoras da pesquisa, Kathie Njaine, professora do Depto de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina. O motivo das agressões é quase sempre o ciúme e a vontade de manter o cônjuge sob controle. O estudo está no livro Amor e violência (Editora Fiocruz), lançado em agosto. …
As meninas dizem fazer mais ameaças: 33% afirmaram insinuar destruir objetos ou arremessar algo. Entre eles, 27% relataram esse tipo de comportamento. Elas ainda recorrem ao expediente de espalhar boatos contra o cônjuge e tentar afastá-lo dos amigos, prática conhecida tecnicamente como “violência relacional”. Cerca de 20% dos rapazes declararam ser vítimas dessa estratégia ardilosa. Entre as meninas, 14% sofreram com a atitude (leia o quadro abaixo). …
É provável que parte da violência esteja ligada à mudança no papel feminino. Um levantamento com 320 adolescentes entre 10 e 19 anos, feito pelo Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sugere que 22% das meninas atendidas têm comportamento violento contra outras pessoas (sejam meninos, amigas, pais ou professores). Esse padrão só aparece em 12% dos meninos. “Parece que, ano a ano, a agressividade entre as meninas aumenta”, afirma a socióloga Miriam Abramovay.
Num estudo coordenado por ela com 13 mil estudantes de cinco capitais brasileiras, 10% das meninas afirmaram já ter batido em alguém na escola. Segundo Miriam, para conseguir o mesmostatus de liderança conferido aos homens, as meninas decidiram usar as mesmas táticas: se impor pela força. Inclusive entre elas. “A imagem de feminilidade tradicional não é mais aceita pela sociedade. As meninas competem com os meninos em tudo, no mercado de trabalho, no vestibular, na atenção de outros amigos.”
“Os garotos estão apanhando direto. Estão acuados. Como eles são mais fortes, têm medo de revidar e ficam quietos”, diz a jovem G.F., de 18 anos.”
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